Cadeira vazia

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A separação acontece. Alguém que se muda para um outro país, outra cidade, outra empresa. Ou para uma realidade incompatível com a sua. Alguém com quem você passou uma vida inteira, ou algum romance curto, mas intenso. Ou uma amizade rara. Às vezes o fim é conhecido, esperado ou necessário, o que não quer dizer que é sem dor.

Incrível como coisas pequenas nos despertam a memória. Uma lembrança vem junto com um filme, uma música, um perfume. O vento frio de noite, um percurso, um lugar. Aquela vontade de comentar algo que um dia teria feito sentido, mas hoje não mais.

Difícil olhar para a cadeira vazia, para os objetos que ficaram, para as fotos antigas. Reviver na mente os momentos vividos traz uma sensação estranha, difícil de distinguir se boa ou ruim na paleta de tantos tons em que as emoções se apresentam. As cenas desfocadas, as falas reescritas, um gosto doce meio amargo. Dá uma dorzinha no peito e os olhos ardem ao contemplar aquela saudade que nunca se apaga totalmente, uma brasa adormecida que, se cutucarmos, começa a queimar de novo. Às vezes é mais seguro evitar.

Fica uma ausência que não tem solução, e não porque a pessoa morreu, mas porque mudou. Ou, sejamos honestos, os dois mudaram, cresceram, seguiram setas opostas em tantas bifurcações que foram parar em universos completamente diferentes, a ponto de não haver mais nada em comum além da própria nostalgia.

Fica um carinho mútuo, um respeito pelo que se viveu, um espaço vitalício no coração, um amor congelado no passado.

Fica a dúvida de como foi que aconteceu, se foi por não ter ancorado a corda, por ter deixado à deriva até se perder. Ou por ter se afastado sem saber bem ao certo se por prudência ou covardia. Fica o desconforto do que poderia ter sido e o vazio do que faltou ser. E que não volta mais.

Não faça dívidas com o amor. Mantenha-o em dia. Demonstre. Confesse. E então a saudade só irá te mostrar o quanto valeu a pena.

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